Plebiscito diz 'não' à proposta para substituir a constituição européia.Adversários dela temem centralização de poder em Bruxelas.
O governo irlandês admitiu nesta sexta-feira (13) a vitória do "não" no referendo sobre o novo tratado destinado a reformar a União Européia. Votaram pelo "não" 53,4% dos eleitores, contra 46,6% pelo "sim".
O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, disse que, apesar do plebiscito, o processo de ratificação do Tratado de Lisboa deve continuar.
"O tratado não está morto, creio que ele ainda segue vivo", disse Barroso em entrevista após a divulgação do resultado.
O ministro irlandês da Justiça, Dermot Ahern, confirmou o resultado quando as totalizações de todo o país já mostravam a derrota do Tratado de Lisboa em um amplo número de distritos do interior. Em Dublin, venceu o "sim".
"Afinal de contas, por uma miríade de razões, o povo falou", disse, lamentando o resultado.A Irlanda é um dos países mais favoráveis à União Européia dentro do bloco, e foi o único a submeter a referendo o tratado criado para substituir a Constituição Européia, rejeitada pelos eleitores de França e Holanda em 2005.
Dessa forma, um país com menos de 1% da população da UE (490 milhões) pode jogar por terra um tratado negociado a duras penas durante anos pelos líderes de todos os 27 Estados membros -- e para o qual não existe um "plano B".Refletindo o resultado, o euro caiu para seu menor valor frente ao dólar em mais de um mês."Se o povo irlandês decide rejeitar o Tratado de Lisboa, naturalmente não haverá Tratado de Lisboa", disse o primeiro-ministro francês, François Fillon, na noite de quinta.
Mas outras autoridades da França -que presidirá a UE no segundo semestre- disseram que o trabalho continua, numa época em que já se deveria começar a implantação, para que vigorasse em 2009.O objetivo do Tratado de Lisboa era facilitar o processo decisório dentro do bloco, instituindo novos mecanismos de defesa e relações exteriores, além de um mandato de longo prazo para um presidente do Conselho Europeu.Entidades de agricultores e empresários, sindicatos e os três maiores partidos da Irlanda davam apoio ao tratado. No dia de votação, casas de apostas ainda indicavam um amplo favoritismo do "sim".
Graças à prosperidade que experimentou como membro da UE, a Irlanda é um dos países mais "eurófilos", segundo as pesquisas. Mas adversários do Tratado de Lisboa dizem que a nova ordenação política tiraria poder dos pequenos países e acabaria com a histórica neutralidade irlandesa ao concentrar em Bruxelas novos poderes de defesa e diplomacia.Não é a primeira vez que o eleitorado irlandês passa uma rasteira na UE. Em 2001, a vitória do "não" ao Tratado de Nice quase impediu a ampliação do bloco para o Leste. O governo repetiu o referendo, e o "sim" prevaleceu.Desta vez, porém, o governo diz que não cogita repetir a votação.
Na semana que vem, uma cúpula da UE em Bruxelas deve reafirmar seu compromisso com o tratado e pedir à Irlanda que indique como pretende proceder. Já houve ratificação ao tratado em 14 Parlamentos nacionais.
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