No 1º trimestre, as transações com a moeda européia subiram 9,9%; as com dólar, 0,01%.Dólar ainda tem liderança nas negociações com o exterior, com 93,35% das exportações.
A desvalorização do dólar está levando os empresários brasileiros que exportam para a União Européia a ampliarem o uso do euro nas transações comerciais. No primeiro trimestre deste ano, os Registros de Exportação (RE's) na moeda comum do mercado europeu cresceram 9,9% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto que em dólar norte-americano a alta foi de apenas 0,01%, de acordo com dados obtidos pela Agência Estado junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).especialistas, o avanço das operações em euro ocorre pela valorização que a moeda européia apresenta ante o real neste ano, de 6,7%. Já o dólar se desvalorizou 4,8% em relação à moeda brasileira. "O fato de o euro estar se apreciando mais rápido do que o real sobre o dólar eleva o poder de compra das exportações brasileiras à Europa", afirmou a economista da Tendência Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro. "O real está se valorizando sobre o dólar, mas num ritmo inferior ao do euro", explica.
* Estabilidade
Os empresários estão encontrando ainda no euro uma maior estabilidade nos preços, já que a moeda não apresenta uma tendência de queda, como vem ocorrendo com o dólar.
"Quando se estabelece uma venda em euro, se mexe menos nos preços, pela variação cambial ser menor", destacou Humberto Barbato, diretor-superintendente da Cerâmica Santa Terezinha, que destina 50% de suas exportações à Europa.
"O risco cambial que se tem atualmente em dólares é muito maior do que em euro ou em libra esterlina (moeda inglesa)", completou Barbato.
O crescimento dos registros de exportação em libra esterlina, por exemplo, foi de 80,2% nos três primeiros meses do ano.
* Liderança
Mesmo que os contratos em dólares tenham ficado praticamente estagnados no período, a moeda norte-americana mantém a liderança nas negociações com o exterior, com uma participação de 93,35% sobre o montante exportado. Os RE's em dólares somaram 1,014 milhão entre janeiro e março, enquanto que os registros em euro foram de 83,5 mil.
"A tradição dos exportadores é vender em dólares", ressaltou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. De fato, os exportadores têm poucas opções de negociações, já que as vendas podem ser realizadas, além do euro, dólar e libra esterlina, apenas com as moedas da Dinamarca, Noruega, Suécia, Austrália, Canadá, Suíça e Japão. No primeiro trimestre de 2008, a participação do euro foi de 5,51% sobre as vendas ao exterior, valor superior aos 3,74% registrados no mesmo período de 2006.
"De maneira geral, as empresas que vendem para a União Européia estão preferindo negociar em euro", explicou Castro, acrescentando que o aumento das exportações brasileiras para a Europa no primeiro trimestre decorre principalmente da valorização dos preços das commodities. Entre janeiro e março, a União Européia foi o principal destino das exportações brasileiras, com 24,9% de participação e aumento de 14,5% sobre o mesmo período do ano passado, para US$ 9,625 bilhões.
* Troca
Com exportações anuais de aproximadamente US$ 300 mil, a Presstécnica - empresa que fabrica forjados a frio e usinados em aço, alumínio, cobre e suas ligas - trocou o dólar pelo euro há um ano nas suas vendas à Alemanha, França e Reino Unido.
O diretor de comércio exterior da companhia, Hans Kittler, salientou que a utilização da moeda européia foi uma forma de estabilizar a receita. "Não temos mais segurança com o dólar. Ao vender em euro não estamos aumentando os ganhos, mas pelo menos reduzimos as perdas", disse.
Barbato, da Cerâmica Santa Terezinha, que exporta por ano cerca de US$ 20 milhões em isoladores elétricos, ressalta que a companhia tem procurado ampliar suas vendas para a Europa. Segundo ele, a participação do setor externo no faturamento da empresa retraiu-se de 40%, em 2006, para 27% no ano passado, em decorrência da perda de valor do dólar. "A queda só não foi maior porque temos muitos clientes na Inglaterra, Irlanda, Grécia, Portugal e Itália, países que estamos tentando incrementar as vendas."
* Importações
Ao mesmo tempo em que algumas empresas estão eliminando seus riscos cambiais negociando em euro, outras companhias têm custos crescentes com as importações na moeda européia. O Grupo Tyrolit, que fabrica ferramentas de retificação, corte, serra e perfuração, exporta mensalmente 500 mil euros à Áustria, porém importa cerca de 1,3 milhão de euros.
"Para nós, acaba tendo um impacto negativo, já que a dívida acaba ficando maior", explicou o gerente administrativo da empresa no Brasil, Robson Botignon, sobre o impacto da valorização do euro em relação ao real nas importações da empresa.